quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

FAZENDO DA FANTASIA ALGO CONCRETO

Ontem fiz um exercício interessante.

Quando gravo uma música através do meu software de gravação, o Protools, gravo cada instrumento separadamente em um canal de áudio próprio.

Peguemos a música Pé No Breque, como exemplo: há, para simplificar o entendimento, 4 canais: um para bateria, um para o contrabaixo, outro para a guitarra e mais um para a voz. Dessa forma, posso ouvir cada instrumento ou voz isoladamente, posso ouvir apenas 2 deles juntos, ou ouvir todos juntos, formando o arranjo completo da música.

Entendido isso, fiz o seguinte: deixando “mudos” os canais de voz e guitarra e ATIVOS somente os canais de bateria e contrabaixo, conectei a gravação já feita, a uma caixa de som.

Outro aparte: tenho um caixa de som “multiuso” na qual posso conectar várias coisas como a guitarra, um microfone para a voz, um teclado ou um cd player, até.

Então, conectei a gravação pronta, de onde só saía bateria e contrabaixo, à caixa de som, onde conectei também a guitarra e um microfone para voz.

Assim, eu teria o acompanhamento fixo e pronto da bateria e do contrabaixo, e teria que executar “ao vivo” a guitarra e a voz, justamente como exercício simulador da execução em banda. O grande lance era ver até que ponto conseguiria fazer a voz e a guitarra ao mesmo tempo.

Parece um exercício muito básico, dos mais iniciantes, (e sou iniciante) mas não é tão simples.

Uma coisa é o cara cantar e se acompanhar no violão. Isso, faço sem dificuldade. Mas me parece que a guitarra tem especificidades na hora de tocar que demandam uma concentração um pouco maior, o que pode complicar, quando se tem que cantar ao mesmo tempo.

Pois bem. Fiz esse primeiro teste com Pé No Breque. Música rápida e difícil de cantar até para quem está sem tocar nada. Nas primeiras tentativas foi difícil: concentrado na guitarra, atropelava palavras, cantava frases indecifráveis. Quando concentrava na voz, errava na guitarra... Mas, após umas 5 tentativas, consegui um resultado até que razoável. Cantei todos os versos satisfatoriamente e até troquei de efeitos da guitarra, da distorção para um efeito mais limpo (com o pé, a gente aperta o pedal e troca o efeito), sem dificuldade.

Mais uma prova de que ao lado do talento e da criatividade, em qualquer atividade que quisermos desempenhar, é preciso o suor, a repetição, o ensaio. O lado braçal da coisa. Só a título de exemplo, Oscar, o ídolo máximo do basquete brasileiro, não passava de um jogador tecnicamente razoável nos quesitos velocidades, marcação, tática. Mas o que fez de Oscar um jogador excepcional foi seu arremesso certeiro, com nível de aproveitamento fora do comum. Segundo o próprio Oscar, isso não foi obra do acaso. Ele ficava treinando horas e horas arremessos, sozinho.

Bom, voltando ao exercício de ontem.

Relativamente satisfeito com Pé No Breque, parti para outra música, na qual julgava que teria ainda menos dificuldade: Qualquer Direção.

Mas aí, a coisa foi feia.

Primeiro, que na introdução que criei e gravei Qualquer Direção, tive que gravar 2 guitarras sobrepostas, talvez até para driblar minhas limitações de guitarrista. Dessas 2 guitarras, uma estava com efeito de distorção enquanto a outra estava “limpa”. Como AO VIVO vamos tocar em trio e vai constar apenas uma guitarra “no palco”, tive que decidir se faria a introdução com a guitarra limpa ou distorcida, na hora de tocar ao vivo. Melhor limpa. Ok. Só que aí surgiu outro problema.

Logo após a introdução, quando começa a voz, a guitarra é distorcida. Então a mudança de efeitos tinha que ser rápida, instantânea e penei muito nessa troca. Mas depois de algumas tentativas essa primeira troca ficou mole.

O problema é que, durante a música, a guitarra (da forma como idealizei) alterna muito entre o efeito de distorção e o mais limpo, e não consegui me encontrar nessas constantes trocas, que fazemos com os pés, tendo ainda a obrigação de cantar. Se fosse só tocar sem cantar, conseguiria. Cantar tocando sem as trocas de efeito, também.

Nessa hora surge o x da questão, a angústia de se buscar o que deseja e o confronto com a limitação.

Aí surge um erro, que é a comparação. Será que outros podem e eu não? Comecei a pensar rapidamente em bandas que conheço e realmente não consegui lembrar de vocalistas que toquem guitarra fazendo trocas de efeito assim, tão constantes. Outro dia vi um show do Skank observando Samuel tocando e cantando e pelo que percebi, nos momentos em que canta, ele faz na guitarra um acompanhamento básico. Foi uma impressão, posso estar enganado, até porque estava deitado e com sono – não foi uma observação tão concentrada.

Em outras bandas que fazem parte de minha formação musical, como Engenheiros, Legião, RPM, The Police, os respectivos vocalistas Humberto Gessinger, Renato Russo, Paulo Ricardo e Sting, tocavam contrabaixo. Talvez, seja mais fácil.

Mas o fato é que antes de achar trezentos outros exemplos de vocalistas que fazem “miséria” com a guitarra enquanto também cantam, (lembrei do Mark Knopfler do Dire Straits) tenho que pensar que o foco sou eu. Tenho que fazer o som que posso.

E 2010 é o ano de fantasiar menos e fazer mais, aceitando as limitações (sem nunca deixar de evoluir, é claro).

Com esse raciocínio, vai ser mais fácil optar por um arranjo mais básico, sem trocas de efeitos, mais confortável para cantar e tocar ao vivo, com criatividade.

Problema resolvido. Dilema dissolvido. Por enquanto...

2 comentários:

  1. Oiiii Guga!!!!!! Tudo bem!! Essa experimentação toda, além de necessária me pareceu divertida!!!.Ah sobre o seu conselho, obrigada! Sei que ainda tenho o que fazer por aqui{BSB}.A música mil imagens, gostei muito, luta contra todos os conceitos impostos pela sociedade atual...Queria te perguntar uma coisa, gosta de Pitty sua conterrânea, ela não é bem da sua formação musical,mas é legal neh?

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  2. Letícia, o exercício é divertido sim. Estou louco para trocar a platéia imaginária do meu quarto por uma de verdade. A gente chega lá... Qto a Pitty, gosto muito sim, o último disco dela está bem legal. Sempre curti bandas que faziam letras instigantes, questionadoras, reflexivas... Nesse particular, Pitty se sobressai no cenário do rock brasileiro atual. O que era uma regra, certa época, virou exceção. Nessa lacuna, inclusive, é que suponho que posso ter um espaçozinho, e onde reside meu maior talento, ao meu ver. Que massa que vc foi conferir Mil Imagens. Em breve ela vai ganhar um capricho na produção... Vou postar uma letra de uma música que imagino que vc posta gostar. Bj!

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