quarta-feira, 3 de março de 2010

COM O CHEIRO E COM O SOM

Domingo tocamos por cerca de 4 horas na garagem lá de casa. Banda de garagem, no nosso caso, não é uma metáfora, nem um estilo. É uma realidade concreta.

Umas músicas já estão bem redondinhas, outras precisam de mais ensaio ainda. O mais bacana é como sentimos que o entrosamento vai crescendo a cada sessão; o que nos leva a querer tocar juntos mais e mais, driblando os obstáculos do cotidiano.

Agora, o mais legal do ensaio de domingo foi termos gravado pela primeira vez o som que fizemos juntos ao vivo. O baixista pegou seu I Phone (tecnologia e informática, sempre com ele) e gravou !Parte! e Uma Só, as duas mais bem tocadas do dia.

Bateria fixa da “pedaleira”, ele no baixo e eu na guitarra e voz.

Esperava uma gravação horrorosa, com instrumentos fora de tempo, muitos erros... Mas não é que ficou redondinho?!

A gravação nos surpreendeu positivamente porque “vimos” que estava tudo em seu lugar, baixo e guitarra certinhos como tinham que estar e voz na sua nobre luta contra as limitações.

Claro que não era o melhor som do mundo, mas ficou mais do que claro que estamos evoluindo e que há um potencial no nosso som. (quem ouvia da sala confirmou que estava soando legal).

Fica claro o quanto é importante gravar. Ali, no momento em que tocamos não conseguimos assimilar tanto como está saindo. A gravação permite um distanciamento importante, uma audição mais racional do som, necessária para detectarmos defeitos, mas, no nosso caso, sobretudo, imprescindível para percebermos a beleza do que estávamos fazendo.

E me parece que para tudo na vida é meio assim também. Quando estamos inseridos num processo, num relacionamento, num problema, custamos para perceber a saída e tomarmos as atitudes mais precisas. Li num outro blog um dia desses uma reflexão sobre o quanto é fácil dar conselho e resolver os problemas dos outros enquanto temos tanta dificuldade para lidar com nossas próprias questões.

Imediatamente me lembrei de uma música dos Engenheiros que fala algo do tipo: “sem o cheiro, sem o som, sem ter nunca estado lá / com a coragem que a distância dá, fica mais fácil”.

Quantas vezes nós não percebemos o quanto fomos tolos em certas passagens da vida, depois que o tempo nos permite um certo distanciamento para encarar a questão?

Por outro lado, é preciso sabedoria para entender que “fomos (e somos) quem pudemos ser”: o que seria de nós sem os sentimentos, os cheiros e os sons que nos fizeram e nos fazem tomar as atitudes que tomamos ao longo da vida?

Como na gravação, encarar os erros e procurar corrigi-los é fundamental. Mas reconhecer os méritos e a legitimidade de ações tomadas sob a pressão, com o calor, o cheiro e o som do momento, talvez seja ainda mais crucial.

2 comentários:

  1. Você me lembrou duas pessoas - um irmão meu que ensaiava com a banda dele na garagem, mesmo. Era um grupo feliz. E meu filho, que toca piano erudito e teve a ousadia de tocar na prova a peça em que estava pior - no dia anterior ele tocava e gravava, ouvia, tocava e gravava, ouvia, até ficar satisfeito com o que ouviu. Foi demais! :)
    Mas, concordo que temos que, afinal, encarar que o que fazemos sempre vai ser o nosso melhor.
    Entretanto... pena que não podemos ter à nossa disposição tecnologia suficiente para nos distanciarmos no tempo e espaço para decidirmos as melhores opções de vida. ;)

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  2. Che, a tecnologia tem nos permitido simular uma partida de tenis em que o cotrole remoto simula uma raquete... Há games que simulam tocar uma guitarra... Por que não tentar aprender a jogar tenis e a tocar guitarra de verdade? Será que esse distanciamento não é uma faca de 2 gumes? Eliminamos os riscos, mas com eles, a emoção? Fiz só uma analogia pra ajudar a gente a pensar... Bj PS: estou fazendo aula de guitarra e tenis atualmente...rs

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