sábado, 17 de julho de 2010

Quebra negona = Shake it up baby?

Há algumas semanas, inocentemente, entrei numa discussão com leitores de um blog sobre rock baiano (http://rockloco.blogspot.com/ - muito legal), ao defender, dentro do assunto que se falava no blog, que a Axé Music já merecia mais respeito dentro do universo da música. Defendia e assim entendo, que existe muita coisa musicalmente relevante e bem feita na axé music e que a má vontade com que roqueiros viam esse estilo musical ia até de encontro com o sentido de ser do próprio rock, que nasceu como uma música simples, tecnicamente falando.

O auge da minha provocação foi dizer que era contraditório cobrar apuro musical ou letras elaboradas da axé music, quando Legião Urbana surgiu com músicas simplérrimas de 3 acordes e os Beatles, pelo menos no início da carreira, tinham letras bobas e vazias – vide Twist and Shout, cuja letra poderia muito bem ser encaixada numa melodia de axé – desferi.

Inevitavelmente surgiram alguns leitores do blog me chamando de delirante axezeiro, que estava cometendo uma heresia dessas imperdoáveis. Aprendi, inclusive, que Twist and Shout, apesar de gravada pelos Besouros, não havia sido composta por eles.

Pois bem, discussão superada, qual não foi minha surpresa quando, há 10 minutos atrás, ouvi no rádio uma música chamada “Quebra Negona” do “Raghatoni” (o marido de Sheila Carvalho, ex dançarina do É O Tchan). Pois não é que Quebra Negona é uma versão de Twist and Shout! Cheia de suingue, cheia de axé, mas definitivamente uma versão de Twist and Shout!

A princípio fiquei surpreso com essa gravação. Será que ele obteve a devida autorização por parte de quem cuida dos direitos dos Beatles, para gravar essa versão?

Lembro-me que Rita Lee, ao lançar um cd só com músicas dos garotos de Liverpool - algumas delas com versões em português – não conseguiu autorização para gravar uma versão de “I Wanna Hold Your Hand”, pois substituíra a letra original por uma fábula em português vivida por um bode e uma cabra, cujo clássico refrão “i wanna hold your haaaaaaaaaaaand” virava “o bode disse méeeeeeeeeeeeeeeeee”...

Se os detentores dos direitos do Beatles foram criteriosos a ponto de vetar uma versão bem humorada de uma música para Rita Lee, temerosos com a falta de fidelidade com a original, por que haveriam de autorizar uma versão de Twist and Shout chamada “Quebra Negona” e cantada pelo Raghatoni?

Foi aí que comecei a refletir: será que a tradução “shake it up baby” aqui na Bahia não seria exatamente “Quebra Negona”?

Será que não existe algo de preconceito ou discriminação de nossa parte, ao achar uma música em inglês linda quando canta “i love you” e achar brega uma música nacional que canta “eu te amo”?

Idolatramos jovens roqueiros ingleses, filhos do proletariado europeu, mas detonamos as manifestações culturais das classes mais populares do nosso país...

Talvez a transformação mais fiel de uma música inglesa que canta “shake it up baby” para uma música baiana, seja justamente “quebra negona”, por mais que isso doa aos ouvidos.

E dói, viu...

PS: seguem abaixo as versões original e traduzida de Twist and Shout, de acordo com o www.terra.com.br

Twist And Shout
The Beatles
Composição: Phil Medley / Bert Russell

Twist And Shout

Well, shake it up baby now (Shake it up baby)
Twist and shout (Twist and shout)
Come on, come on, come, come on baby now (Come on baby)
Come on and work it on out (Work it on out)

Well work it on out, honey (Work it on out)
You know you look so good (Look so good)
You know you got me goin' now (Got me goin')
Just like I knew you would (Like I knew you would)

Well, shake it up baby now (Shake it up baby)
Twist and shout (Twist and shout)
Come on, come on, come, come on baby now (Come on baby)
Come on and work it on out (Work it on out)

You know you twist, little girl (Twist, little girl)
You know you twist so fine (Twist so fine)
Come on and twist a little closer now (Twist a little closer)
And let me know that you're mine (Let me know you're mine)

Gire e Grite

Bem, dance agora baby (dance agora)
Gire e grite (gire e grite)
Vamos, vamos, vamos, vamos lá baby (vamos lá baby)
Vamos lá, vamos dar certo juntos (vamos dar certo juntos)

Bem, vamos dar certo juntos, amor (Vamos dar certo juntos)
Você sabe que está tão bonita (Está tão bonita)
Você sabe que você me tem agora (me tem)
Assim como eu sabia que o faria (como eu sabia que o faria)

Bem, dance agora baby (dance agora)
Gire e grite (gire e grite)
Vamos, vamos, vamos, vamos lá baby (vamos lá baby)
Vamos lá, vamos dar certo juntos (vamos dar certo juntos)

Você sabe que gira, garotinha (gira, garotinha)
Você sabe que gira tão bem (gira tão bem)
Vamos, gire um pouco mais perto agora (gire um pouco mais perto)
E me deixe saber que é minha (me deixe saber que é minha)

4 comentários:

  1. Ilhados, como eu já falei lá no outro blog, com outras palavras, não é só uma questão de tradução. Literal ou não. Existem milhões de fatores implícitos aí. Resumindo muito, não é o fato de que "quebra negona" é próximo de shake it up baby que eu vou passar a gostar de axé. E se alguém, em algum momento, chegou a afirmar que a importância do rock n roll se encontra na "profundidade" de suas letras, ou na complexidade harmônica de suas canções, bom, esse cara não entendeu nada. É o contrário. É esta aparente simplicidade e descompromisso que foram a razão de sua explosão inicial (entre outros fatores, é claro). Mas o rock n roll original, este de Twist and shout, anos 50, CRIOU, não intencionalmente, uma nova visão de música no mercado, voltada para um outro público consumidor (jovem, adolescente), não contemplado idealmente até então, que passava a ter uma voz para suas aspirações, seu cotidiano, suas idiossincrasias, seus medos e desejos...Não estou fazendo nem juízo de valor. É apenas uma ligeira e rasteira contextualização. Não julgando, portanto, só quero deixar claro que a aversão de parte do público "roqueiro" baiano pela axé possui outras razões que não apenas suas letras. E aí, a questão é complexa e iria requerer mais e melhores blah blah blahs...abraço.
    Cebola

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  2. Cebola, é uma prazer vê-lo por aqui. Vc deve ter percebido que minhas referências são rock; é o que mais gosto, escuto e o som que curto fazer... Só quis dizer lá, que o axé merecia algum respeito, não merecia o rótulo de "sub-música". É música sim, um outro estilo que podemos não curtir, mas que tem sua relevância. Inclusive, eu acho que a cena rocker daqui poderia usufruir da mídia, dos investimentos, dos estúdios, que a turma do axé propicia. Talvez uma relação mais harmoniosa trouxesse benefícios para ambos os lados. Mas tô falando de fora... Abraço, e volte sempre!

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  3. Valeu, man. Saquei sim, sua opinião. É que essa galera (incluindo eu mesmo), que cresceu aqui sob o monopólio dessa indústria cultural do axé apadrinhada pelo estado (acm), tomou uma ojeriza, pra mim, justificável, contra esta manifestação cultural. É natural. E, eu diria, até recíproca.

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  4. Entendi,velho. Mas às vezes acho que esse monpólio tem mais a ver com a demanda do público do que com apoios do Estado. Temos que entender a cidade em que vivemos. Por outro lado, com o crescimento das classes D e C, vejo com otimismo o futuro próximo; aposto, embasado pelo achismo, que o público de rock soteropolitano tende a consumir cada vez mais música, das formas em que ela pode ser consumida (shows, cds, downloads, acessos a sites). Quem viver verá

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